Quando comecei estudar homeopatia na Universidade Federal de Viçosa em 2003 existiam mais dúvidas do que respostas no âmbito prático, o processo de uso no campo ainda incipiente se dava de maneira muito intuitiva. Os estudos eram muitíssimos interessantes que demonstravam que a homeopatia estimula a planta a produzir metabólitos de defesa, mas as questões de ordem prática como tecnologia de aplicação, volume de calda, diluição do produto, escolha da potência do remédio, repetição das doses entre outras questões ainda não tinham sido testadas. Era a nossa hora de agir e contribuir com a tão nova Homeopatia na Agricultura.
Iniciei em 2007 alguns testes práticos em fruticultura em algum tempo que me sobrava do meu primeiro trabalho pós-formado em Agronomia. Em 2008 eu administrava uma fazenda de produção de oliveiras e maracujá doce, nesta ocasião propus ao meu patrão fazer testes com homeopatia, este concordou mas me impediu de usar a mão de obra da fazenda para as aplicações, então eu teria que aplicar nos finais de semana.
Comecei estas aplicações, e um dia após a pulverização enquanto descansava em baixo de uma oliveira fiquei a pensar no processo de absorção e resposta da planta, logo que pensei em Samuel Hahnemann que afirmava que o remédio não precisava de grandes doses, não devia-se aplicar o remédio para cobrir as feridas e que apenas uma pequena dose interna do medicamento era capaz de excitar uma resposta de todo organismo tratado. A partir deste momento percebi que não havia necessidade de molhar a planta toda, pois o alvo da homeopatia é a planta. Eu que estava acostumado com grandes volumes de caldas por ha que os insumos químicos necessitam na fruticultura senti certa insegurança na aplicação, e fui fazendo um primeiro teste com 60 litros por ha, os resultados foram aparecendo, mas como saber se os resultados poderiam ser melhores se aplicados em grandes volumes? Foram testes de campo que me deram a resposta. Com o tempo fui percebendo que as plantas não respondiam melhor aos grandes volumes na pulverização da homeopatia. Então assim segui com as aplicações mínimas.
Em 2009 numa grande infestação de xantomonas em Maracujá doce levei o remédio homeopático ao produtor, expliquei que não precisava molhar a planta toda, recomendei a ele que usasse 40 litros/ha de calda, mas como as plantas estavam muito desfolhadas ele me ligou dizendo que com 20 litros pulverizava com um jato por planta, concordamos com esta forma de aplicar e simplesmente funcionou muito bem a bacteriose foi curada e a planta recuperou sua força e produtividade.
Hoje este modelo de aplicação está bem consolidado temos diversos parceiros que fazem uso desta pulverização em dose mínima, temos clientes que utilizam até 7 litros por ha. Sempre mantemos a dose do preparado homeopático por ha, que nas potências CCLM que trabalhamos tem se mostrado as mais eficazes de 5ml/ha.
Quando abrimos nossa empresa em 2009 tivemos um desafio de aplicar homeopatia via irrigação, algo que nunca tínhamos feito e com o agravante de diluir o produto homeopático em uma caixa d’água impregnada por produtos químicos. A indicação até então era que homeopatia precisava ser um tanque novo, então esta situação era testar ou largar a oportunidade. Fato que o teste se iniciou e para nossa surpresa a homeopatia funcionou mesmo diluída em caixa e canos com resíduos de agrotóxicos. Esta experiência foi muito importante por facilitar muito os agricultores iniciarem testes sem precisar comprar pulverizadores ou atomizadores novos apenas para homeopatia.
E como no campo quem manda é a praticidade logo vieram as situações de agricultores desejarem misturar na mesma pulverização a homeopatia e o agrotóxico, em nossas experiências tem efeito, em uma situação um talhão de soja de 100ha o agricultor misturou a homeopatia com inseticida na metade da área e comparou efeito com a outra metade com apenas inseticida, e o resultado foi que na área onde se aplicou homeo + inseticida não houve reinfestação significativa de lagartas e na área onde recebeu apenas inseticida houve reinfestação forte necessitando de mais uma aplicação de químico. Assim percebemos que aplicar homeopatia com o químico é uma estratégia de manejo integrado útil para redução do uso de químicos favorecendo a implementação da homeopatia.
Muito se criticava quando começamos a divulgar estas experiências, mas também não faltaram pessoas a entender que a homeopatia é uma técnica que tem uma finalidade de recuperar a saúde das lavouras e hoje esta informação está mais difundida e a homeopatia ganha espaço na agricultura.
Ainda hoje é comum os mais fanáticos da agroecologia querer afirmar que “homeopatia funciona pior em situação que se usa químicos junto.” Enfim eu não tenho certa resposta, mas tenho a convicção de que a geração de conhecimento das experiências empíricas ou científicas tem como objetivo a utilidade, e assim por considerar útil a estratégia de uso da homeopatia combinadas com químicos exatamente por resultar na diminuição da necessidade do uso de agrotóxicos é que fazemos uso desta prática.
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